Na última sexta-feira, 19, dia em que celebramos os povos originários, tivemos o lançamento do mais novo álbum do DJ Alok, que conta com a participação de oito povos indígenas: Huni Kuin, Kariri Xocó, Guarani Mbyá, Xakriabá, Guarani-Kaiowá, Kaingang, Guarani Nhandewa e dos Yawanawá. A proposta do álbum é unir diferentes sonoridades e culturas, misturando as batidas eletrônicas modernas com melodias tradicionais indígenas.
Para além da diversidade musical envolvida nesse projeto e da belíssima obra da capa - uma releitura do artista Denilson Baniwa, intitulada “Metrô-Pamuri-Mahsã” (uma reverência ao mito da grande Cobra-Canoa-da-Transformação) - o que me chamou a atenção foi o nome escolhido para o álbum: "The Future is Ancestral" (O Futuro é Ancestral, no bom português!).
Esse é o primeiro questionamento que queremos compartilhar: é preciso refletir sobre o verdadeiro sentido de "futuro ancestral".
Essa expressão vai muito além do entretenimento da fusão de estilos musicais. Ela representa uma mentalidade, uma filosofia, que nos convida a olhar para as tradições e sabedorias de povos originários em busca de regeneração. É um chamado para nos reconectarmos com nossas raízes, valorizar e preservar os conhecimentos e práticas que foram transmitidos ao longo das gerações.
Embora não tenha uma origem ou um autor específico, ela é frequentemente associada a diversos ensinamentos e movimentos de povos indígenas e africanos, que buscam resgatar saberes tradicionais e promover práticas sustentáveis em harmonia com a natureza. A ancestralidade é uma maneira de pensar, fundamentada na importância de aprender com o passado para construir um futuro mais sustentável e significativo.
No Brasil, esse pensamento se popularizou com os saberes do líder e ativista indígena, Ailton Krenak. Em sua obra "Futuro Ancestral" (2022) ele nos lembra que nossos antepassados possuíam saberes profundos sobre a natureza, a espiritualidade e a harmonia com o meio ambiente. Essa sabedoria ancestral é crucial para enfrentarmos os desafios futuros. Futuro este que não é apenas sobre tecnologia e inovação. É também sobre a preservação das florestas, a proteção dos rios e a valorização das culturas originárias.
O que queremos dizer é que, ao explorar esse conceito, é crucial destacar que o "futuro ancestral" não pode ser reduzido a um produto cultural de massa ou uma tendência passageira. Ele carrega consigo uma profunda mensagem de respeito e responsabilidade para com as comunidades e tradições que o inspiram.
A regeneração de saberes é um processo que envolve a recuperação, preservação e revitalização das tradições, práticas e conhecimentos ancestrais. Portanto, é fundamental abordar essa temática com sensibilidade, considerando o contexto histórico, social e cultural no qual ela está inserida.
Mas essa conversa não é apenas sobre música.
É sobre branding!
E aqui entra nossa segunda reflexão!
Não podemos esquecer que Alok se tornou uma marca de grande relevância no cenário nacional. Talvez você não ouviria um álbum de músicas tradicionais indígenas não fosse pela curiosidade de ver essa mistura ousada com a música eletrônica e outros estilos mais populares, como o pop e o rap.
É inegável a repercussão que esse projeto pode alcançar… e não apenas ele: a promessa do Instituto Alok é criar ações estratégicas de longo prazo para apoiar a promover a produção cultural e o empreendedorismo indígena, o bem-estar das aldeias e mobilizar a defesa de direitos. Além do álbum em questão, a "Coleção Som Nativo" incluirá outros sete álbuns com músicas tradicionais e contemporâneas de distintas etnias indígenas. Paralelo a isso, em parceria com o Pacto Global da ONU Brasil e a WeLight, a criação do "Fundo Ancestrais do Futuro" tem como objetivo co-criar um fundo filantrópico para apoiar projetos indígenas em três áreas essenciais: comunicação, educação e tecnologia.
Um projeto ousado que vai exigir da marca um posicionamento consciente. Nunca é demais lembrar que reputação de marca se constrói com boas práticas, sejam elas de inovação, de cultura ou de comunicação. A iniciativa é bastante positiva ao promover a diversidade e colocar os povos indígenas brasileiros nos holofotes da música mundial. Mas ainda há desafios mais amplos relacionados à preservação e valorização das tradições indígenas, a autodeterminação dos povos, demarcação de territórios, entre outros direitos fundamentais que não são contemplados somente através da promoção de um álbum de música.
Marcas que buscam criar um impacto positivo no mundo não podem se limitar a adotar termos ou conceitos das culturas indígenas sem compreender profundamente seu significado e contexto. Elas devem agir de forma consciente, respeitosa e responsável, incorporando os princípios de sustentabilidade, diversidade e justiça social em todas as suas práticas.
"O Futuro é Ancestral” não é apenas uma bela expressão para a capa de um álbum; é um chamado à ação! E esperamos que esse não seja mais um termo desgastado, romantizado e esvaziado de sentido... Nosso movimento é colaborar para um futuro onde as marcas não apenas prosperem financeiramente, mas também contribuam de forma significativa para um mundo mais justo, equitativo e sustentável para todos.
Esse é o desafio!
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Se você deseja construir uma marca consciente de seu papel no mundo, nós podemos te guiar nessa jornada!
Transformar negócios em marcas conscientes é o nosso movimento!
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[PRA QUEM SE IMPORTA]
Recomendo a leitura do livro Futuro Ancestral, uma coleção de textos provocativos de Ailton Krenak para quem quer explorar melhor a temática, do ponto de vista de um lugar de fala.
[EXPLORE O CÓDICE]
Pra complementar essa conversa, compartilhamos um artigo anterior do nosso blog, em que abordei a relação entre Futuro Ancestral e o Design Cultural.
[NOSSA PLAYLIST]
O álbum The Future is Ancestral lançado por Alok, com uma sonoridade bem diferente do que você está acostumado, está disponível nas principais plataformas digitais.
E pra quem curte uma sonoridade mais tradicional, ouça também outros artistas indígenas, como Djuena Tikuna e o álbum Memória Viva Guarani.